4 de dez. de 2009

Como se flutuasse

Buenas, estava olhando alguns escritos meus e encontrei essa pequena história Pulp que escrevi há algum tempo. Uma histórinha policial, era para ser uma história de três ou quatro capítulos. Fiquei no primeiro. Taí:

Como se flutuasse

As coisas andavam devagar. Eu estava acendendo o primeiro cigarro da manhã quando alguém bateu na porta. Simplesmente gritei: — Entre! A porta abriu-se lentamente e então ela surgiu como se viesse diretamente de um sonho. Um sonho dourado.
Estava metida num vestido justo que mostravam todas suas curvas. Os cabelos presos caprichosamente atrás da cabeça eram negros e tinham um brilho que eu não havia visto até aquele momento. Os quadris dançavam elegantemente e com um sorriso discreto e malicioso ela entrou.
O relógio marcava pontualmente oito horas. Minhas manhãs não costumavam começar assim. Então fingi que vivia andando com mulheres tão ou mais belas que ela. Que a cada minuto uma delas batia à minha porta implorando para sair comigo. Olhei para seus pés para me certificar que ela andava, parecia flutuar como se nada fosse digno o suficiente para ela colocar os pés.
- O senhor é o Detetive Wilson?
- Sim… E a senhorita se chama…?
- Helena. Maria Helena.
- Sente-se, por favor.
Ela sentou.
- Preciso de você!
- Humm.
- Tenho tido problemas há algum tempo. Acho que estou sendo seguida.
- Não é de estranhar.
- Como?
- Desculpe. Continue, por favor.
- Algo está fervendo - ela disse de súbito.
- Dá para notar? - perguntei com um sorriso malicioso.
- Aquela água.
Saltei da minha cadeira estofada. Velha, mas estofada. Era a água que eu tinha posto para esquentar o chimarrão. Eu estava nessa de tomar chimarrão todas as manhãs. Mantinha um pequeno fogão de duas bocas para fazer café ou alguma refeição rápida. Apaguei o fogo e voltei pra ela.
- Desde quando a senhorita percebeu que estava sendo vigiada?
- A mais ou menos um mês.
- Humm. Desconfia de alguém?
- Não. Na verdade, sim.
- Sim?
- Sim.
- Ok, de quem?
- Um alienígena.
- Humm.
- Você parece não acreditar, senhor Wilson.
- Acredito.
- Vai pegar o caso?
- Não teria como não aceitar um pedido de você - eu disse. Ela sorriu confiante.
- Quanto sairá o trabalho?
- Estudarei o caso e lhe informarei.
- Ok. Este é o meu cartão. Aqui está o número do meu telefone. Por favor, senhor Wilson, me mantenha informada. Quero me livrar disso, dessa sensação, desse alienígena!
- Não se preocupe, a senhora está em boas mãos.
Ela levantou-se e estendeu a mão para mim. Era suave, muito suave. Era como se eu tocasse num anjo. E então ela se foi. Novamente olhei para seus pés.
Ainda desconfiava que ela flutuasse.

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