30 de mai. de 2009

.

Não fui um daqueles caras que logo se descobriram "escritor", aqueles garotos precoces e inteligentes que aos 12 anos de idade já escreviam poemas, nem mesmo fui um universitário que aos 22 escreveu um grande romance. Na verdade não sou formado em nada. Não era rodeado por esses caras, não tinha uma turma de genios que escreviam e formavam uma turma cool. Eu passava meu tempo jogando futebol na várzea ou matando passarinhos e lagartos no campo. Tínhamos alguns amigos mais, um grande senso de pervesidade com aqueles animalzinhos. Também gostávamos de olhar revistas pernográficas e as calcinhas das garotas da rua. Mesmo sendo os caras que não comiam ninguém. comecei a escrever com quase trinta, antes, eu pensava em ser um cartunista. Coisa que não consegui por falta de talento e outras coisas. Então coemcei a escrever umas coisas e decide que talvez pudesse me tornar um escritor. Hoje já não tenho tanta certeza, e vejo a literatura fugir, mesmo a minha simples literatura. Como vêem, acho que isso é uma grande brincadeira.

Um monte de nada

Ligou o carro sob aquele sol infernal e deu a partida no velho Fusca 78. "Atravessar desertos é uma merda. Um monte de nada" pensou. Colocou uma fita-cassete e com o volume ao máximo ouviu Born To Be Wild. Jack o quebrou ao montar aquela motocicleta e sair por aí com o vento batendo-lhe no rosto. Stepen Wolf o fez pensar que poderia ser um franco atirador.Kerouac embriagado, atravessando a América, dormindo com mariposas e anotando seus sonhos enquanto em algum quarto pequeno, triste e decadente, um velho escreve contos sujos para a Xota. Garrafas de cerveja vazias se amontoam num canto e tudo se embriaga de solidão, tédio e desespero.O Fusca dá o máximo de si. O pedal do acelerador beija o assoalho empoeirado do carro. Porto Alegre agora é uma miragem que desapareceu no horizonte como um fantasma capenga.Quando criança, antes mesmo de assistir Jack e seu parceiro com suas motocicletas em estradas sem fim, antes de ouvir Born To Be Wild, Carlos ouvia estórias sobre os desertos gaúchos. Depois de ouvir tudo aquilo, sobre os homens que morriam de sede, que se perdiam e eram picados por serpentes sob um sol escaldante, Carlos ia para a janela de sua casa com mil imagens e pensamentos em sua cabeça. Lá fora vaga-lumes, grilos, besouros e outros insetos pareciam enlouquecidos na escuridão. Carlos observa os insetos, as folhagens, a grama verde, os campos e as árvores que cercam tudo. Tudo inacreditavelmente verde, úmido do orvalho da noite e gotejando vida por todos os lados. Carlos não podia acreditar nos desertos gaúchos, mas nunca conseguiu esquecê-los.O motor do Fusca roncando grotescamente sob o chão árido do deserto. O sol queimando a lataria do carro, a retina dos olhos de Carlos, os pedregulhos, a rala vegetação. Pequenas pedras saltavam para os lados como se tivesse vida, enquanto Carlos zunia com seu automóvel. Horas se passaram e Carlos continuava sem parar. "Um monte de nada", voltou a pensar olhando para a paisagem crua.Sem saber o motivo Carlos sentiu vontade de dar um cavalo de pau no meio daquele deserto. "Ninguém atravessa um deserto sem dar um cavalo de pau", pensou Carlos com a garganta seca. Carlos acelerou o que pode, o velho Fusca rosnou como um valente monstro cansado, o toca-ficas esgarçando Born To Be Wild e tudo sacolejando e poeira e pedregulhos voando e ele com a mão grudada no freio de mão. Então o caralho do Fusca valente girou, girou, girou e tudo rodava rápido demais aos olhos de Carlos e uma nuvem de poeira engoliu tudo. Com um forte solavanco tudo parou de girar, menos a cabeça de Carlos e a poeira invadiu seus olhos e garganta e ouvidos e então ele deu uma grande gargalhada e olhou para a noite que despencava no horizonte daquele fodido deserto gaúcho.

27 de mai. de 2009

.

Estou tentando escrever a minha micro novela (ainda sem título). Alguns personagens se formam na minha cabeça. Uma dela será uma mulher chamada Hidra, ainda não sei ao certo qual o papel dela, o perfil. Tudo vago ainda. A escrita foge de mim. passei um tempo ontem na frente do computador, fumando e nada. Escrevi uma frase apenas.

26 de mai. de 2009

Sem sentido

W.

Adeus, Tia Chica!

Taí, mais uma revista de quadrinhos lançada por aqui. A "Adeus, Tia Chica!". Bela ilustração de capa, parece ser uma revista interessante, além de ser sempre bom lançamentos de revistas novas de "novos" cartunistas, escritores. A turma dessa revista vai lançá-la em Buenos Aires. Não, o senhor Wiskow não vai. Acho que ando frequentando os bares errados, nunca sei de nada, nunca publico nada, quando vejo surge alguma nova publicação e aqui estou eu parado.
Buenas, quem mandou frequentar apenas bares de quinta.

22 de mai. de 2009

.


Oito da noite.
Quinta-feira.
A mulher que montava. Era certo que outras faziam aquilo. Certo, mas em particular eu tinha certeza que era o que ela mais gostava de fazer. Sentia ela renunciar a tudo ali em cima. Eu era apenas uma vara, uma vara apontada para o céu sentindo toda umidade dela. Mesmo um Wolverine ficaria sem ação nenhuma, rendendo-se ao seu cavalgar alucinado.

Bukowski


20 de mai. de 2009

.

Susy sorria e dizia, nada que um Mastercard não dê um jeito. Marcos perguntou mesmo sabendo a resposta. Vocês aceitam cartão aqui? Susy sorriu novamente. Amor, aqui aceitamos tudo. Posso chamar mais uma garota? - completou, ela.

19 de mai. de 2009

.

Ana tinha certeza que um monstro emergeria das águas daquele rio. Ela sentava por ali, próxima a margem e ficava observando o silêncio. Como Maiko, Ana esperava por monstros.

15 de mai. de 2009

.


Mister Hollywood ouviu o chamado. Melhor, chamou. Estavam algumas garotas lá, colocaram seus uniformes. Algumas roupas de animadoras de torcida. Mister Hollywood adorava o show, ele era o show e não se importava muito. Elas sabiam que quando ele as chamava era diversão na certa.

11 de mai. de 2009

Cidade Fantasma

Coca-cola. Garotas desfilam pelas calçadas despreocupadamente. Conversam e riem enquanto outras duas bebem mais um gole no fim-de-tarde e planejam assaltarem um banco. Uma pergunta para a outra: - Você tem uma arma?

8 de mai. de 2009

O velho caminhão

O velho passava sempre nas sextas, vinha com seu caminhão deixando um rastro de poeira amarelada. Eu imaginava um caminhão fantasma ao vê-lo. O motorista era um velho simpático de barba desgrenhada, branca e suja. Vendia verduras naquele caminhão. Eu ficava observando do portão ele se aproximar ao longo da estrada, parecia algo mágico. O sol iluminando tudo, a luz refletindo sobre a lataria, janelas, a poeira dançando como cavalos loucos. Minha mãe gritava pra mim fazer sinal para para-lo e ela poder comprar suas verduras e frutas. Eu o aguardava proximar-se o suficiente para chamá-lo com o coração na mão.
N. S. Rita - RS

5 de mai. de 2009

.

As noites são quentes e abafadas. Dia após dia. A semana inteira está sendo assim. Fico acordado até as três da madrugada, deixo a televisão ligada enquanto leio e paro por alguns instantes para ouvir os sons que os morcegos fazem no forro da casa. Então me certifico que a velha espingarda está onde a deixei e fico na espera que algum morcego surja e eu possa acertar um deles.
N.S. Rita - RS