25 de jan. de 2010

Entre terras




Andava estranha. Lúcia. dois meses sem nos vermos. Era o tempo contra o tempo. Até que surgiu, trazia um livro na mão e um vestido laranja no corpo. Bateu no meio da noite. Assolada por fantasmas. Era eu um. Disse ela, acusando-me. Dois meses sumida. Bebi litros de água durante as noites. Jogou-me o livro que tinha na mão. Joguei o corpo para o lado, ela fechou a porta, antes, antes acendi um cigarro. Notei o quadril. Largo. Ancas, as ancas. Estava suculenta como deve ser, como deveria ser ser. Mais, mais que antes. Seios fartos. Fingi não notar, não querer, não desejar.
Budapeste, disse ela.
Ah?!
Budapeste..., o livro. Acabei de ler, também assisti o filme.
O Chico, pensei. Desgraçado. Fodido. As mulheres, pensei. Desgraçadas, fodidas.
Chico Buarque?!!... eu disse, desdenhando. Inveja.
Lembrei de você, ela disse. Carne.
Carne
Carne
CARNE
CaRnE
As partes do corpo dela. Curvas, morros, montanhas, vales, voluptuosa.
Quero que escreva em meu corpo...
Sim, ela pensava que eu escrevia. Enganava-se com a minha mediocridade. Encontrara alguns escritos meus e pensava que eu era, que sou, que poderia ser, um escritor. Parou em minha frente, desnudou-se, jogou o vestido no chão. Carne. Seios volumosos, ancas, quadril. Assim que tem que ser, pensei.
Escreve. Ordenou.
Pega a caneta.
Escreve.
Escrever o quê? – pensei. Queria tocá-la.
Escreve, no meu corpo. Quero palavras. As que tu gosta de dizer. Escreve aqui, disse ela, mostrando as coxas, a barriga, o ventre, virou-se, a bunda. Abria.
Sou tua. Meu corpo, é teu.
Escreve.
Não – eu disse com a caneta na mão. E puxei-a em minha direção. O ventre ali. Risquei seu corpo, dei nomes a lugares, criei longas estradas. Transformei seu corpo num estado, num país, num mundo. Rotas que podiam ser percorridas, de um canto ao outro. Eu riscava seu corpo. Ela deliciava-se. Seu corpo transformou-se num mapa.  Uma rota vinha dos seus seios fartos e atravessavam seu tronco, barriga, ventre e desaparecia entre suas coxas. Outra, outra percorria sua bunda, atravessava uma imensidão que levavam de uma ponta a outra dos quadris. A bunda. Depois ela deitada. E ali eu tinha que criar novas rotas, caminhos. Budapeste. Budapeste. Buda. Peste. O nome do meu país era Lúcia.

2 comentários:

Paulo Bono disse...

gosto das carnudas.

Emerson Wiskow disse...

hehe, somos dois, velhão.
grande abraço