28 de mar. de 2010

Visita Sombria

Buenas, enquanto não tenho nada de novo para publicar aqui, já que não estou escrevendo, publico um conto antigo. Afinal nem todos que aparecem por aqui deve ter lido anteriormente.

- Daqui a pouco elas virão sacolejando suas línguas de serpentes. São como répteis com suas línguas loucas e nojentas.

- Sim!... Elas tentam nos seduzir. Se retorcem como se não tivessem ossos. Insinuam-se cheias de luxúria.
- Acho bom você preparar seu rifle!
- Ééé... Vou deixar minha arma pronta. Preparada para quando chegarem.
O velho Marcelino engatilhou sua arma fazendo um som seco no meio da noite. No bairro ninguém colocava a cara para fora de casa depois que a noite chegava. As ruas ficavam vazias e silenciosas como se uma peste tivesse se abatido sobre a cidade. Tudo começou quando elas apareceram. Sempre no meio da noite.
- Hé, hé, hé... Dessa vez vamos pegá-las. Estamos prontos pra elas! - disse o velho Marcelino alisando o longo cano do seu rifle.
- Vamos com calma! Você sabe, elas são muito perigosas. São matreiras como o demônio e podem nos enganar se não tomarmos cuidado - retrucou o velho Luiz com uma expressão desconfiada e tensa. Seu rosto parecia se retorcer na penumbra.
- Dessa vez não vou deixar escaparem! - exclamou Marcelino exaltado enquanto espremia um cigarro entre os lábios murchos.
- Eu sabia que um dia elas voltariam!
- Nunca pensei que essas coisas realmente existissem! - retrucou o velho Marcelino.
- Você não leu os velhos livros? São coisas muito antigas, sempre existiram e agora resolveram aparecer por aqui. Surgem lentamente, lindas, com suas línguas dançantes e seus corpos que parecem não terem ossos. Sabem muito bem do poder que possuem. Nos hipnotizam enquanto movimentam seus corpos daquela forma.
- É, mas dessa vez vamos fodê-las! Estou preparado para elas.
- Ei! Você ouviu isso?
- Fique quieto!
- Ei... Ouça esses sons. Parecem línguas sibilantes.
Os dois velhos amigos prepararam suas armas. Seus corações bateram fortemente e um arrepio percorreu seus velhos corpos como se uma descarga elétrica os tivessem atingidos. Os dois apertaram-se junto à janela para espiar o que acontecia lá fora.
- Você está conseguindo ver algo?
- Ssshhiiii... Espere, está muito escuro!
- Estou todo arrepiado! Algo está acontecendo lá fora! - disse o velho Marcelino.
- São elas... Posso sentir! São aquelas cadelas do inferno. Serpentes. Prostitutas do demônio.
Entre a cerca de madeira surgiram três vultos sinuosos. Eram elas. Um sopro gelado invadiu a noite anunciando suas presenças. Misturadas a bruma três lindas mulheres cobertas por véus transparentes e esvoaçantes aproximavam-se lentamente da casa, pareciam flutuar. O coração de Marcelino parecia que saltaria pela boca.
- Atire nelas! - gritou Marcelino apavorado. Luiz observava paralisado enquanto segurava o rifle - Vou estourar os miolos delas! - exclamou Marcelino exaltado. Luiz não conseguia disparar, ficou apenas olhando estático, seduzido e abestalhado. As mulheres continuavam se aproximando, retorcendo-se como se não tivessem ossos. Hipnóticas, libidinosas e lindas. Muito lindas. Sempre colocando suas línguas para fora como serpentes e emitindo um som surdo. Suas peles brancas saltavam no meio da noite. Elas ofereciam seus grandes peitos aveludados segurando-os entre as mãos enquanto apertava-os, juntando-os um de encontro ao outro. Marcelino estava apavorado. Essas coisas ainda andam por aí. Suas línguas dançavam freneticamente. Abriam as pernas em compasso, alisavam o sexo, exibiam seus corpos perfeitos. Prometiam com gestos e expressões, luxúria e prazeres. Gozos infinitos.
- ATIRE, LUIZ! - implorou Marcelino.
- NÃO! - respondeu Luiz.
- ATIRE!
- Não...
Elas aproximavam-se, eles podiam sentir seus perfumes suaves, suas carnes frescas e a promessa de um grande prazer carnal.
- Só um pouco! Vamos aproveitar um pouco! - pediu Luiz - Elas são lindas, nunca teremos mulheres como elas.
- Seu filho da puta, idiota! Não vê que elas são umas sanguessugas dos infernos!
As mulheres já estavam perto o suficiente para os dois sentirem seus o hálitos frescos. Elas os chamavam e ofereciam seus corpos sinuosos. Os cabelos negros e longos brilhavam entre a bruma. De súbito um grande estampido seguido por gritos estridentes rompeu aquela espécie de transe em que estavam envolvidos.
- ACERTEI UMA DELAS! ACEITEI UMA DELAS! - berrou Marcelino segurando o rifle.
Perto da porta uma das mulheres caiu estirada ao chão com as pernas dobradas como se fosse uma marionete, de dentro da cabeça esfacelada vermes saiam por todos os lados. As outras duas mulheres olhavam para a cena soltando sons estranhos enquanto moviam as línguas freneticamente. Então elas viraram-se e sumiram no meio da noite. Marcelino gargalhava e Luiz continuava estático, observando a mulher estirada lá fora.
- Você a matou...! Você a matou! - Nunca teríamos uma mulher como ela! - disse luiz soluçando enquanto a noite os engolia.

1 comentários:

Iara disse...

A literatura é uma mulher...você sabe. Promete "...com gestos e expressões, luxúria e prazeres. Gozos infinitos..." Vc vai aceitá-la ou acertá-la, Wiskow?

Cruel e bruto, no seu melhor estilo...