28 de abr. de 2010

Manoel Bandeira

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

2 comentários:

Wilame Prado disse...

Grande Wiskow! Obrigado pelo comentário lá no blogue. Porra, fiquei de caro: poderia ter citado você também na crônica! E sobre Pasárgada, caso queira ir a Maringá: http://apoltrona.blogspot.com/2009/09/vou-me-embora-pra-maringa.html

Zéh disse...

Eu adoro esse poema...ele é genial...To até fazendo um trabalho sobre mundo perfeito beem próximo disso...é genial...Eu adoro esse poema...ele é genial...To até fazendo um trabalho sobre mundo perfeito beem próximo disso...é genial...